segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carta Profª Esther para Assessoria

Porto Alegre, 10 de maio de 2010

Querida(o) colega

Aproxima-se a Assessoria do Geempa aos professores, que como tu, estão implementando uma didática e uma pedagogia muito diferentes do que até hoje acontece nas escolas. Não é fácil inovar no campo do ensino-aprendizagem, porque se é alvo de múltiplas reações contrárias que partem de colegas, de dirigentes, de pais e até de alunos.
Isto não se faz sem sofrimento, mas nem por isso acontece sem prazer. Temos que dar um salto entre nossa vontade de mudar, provocados pelo novo e a possibilidade efetiva de por em prática, na sala de aula, esta mudança.
Como fazê-lo?
Além dos estudos, nos Cursos e nas Assessorias, contamos com um precioso dispositivo de ajuda para concretizar esta mudança que são as reuniões semanais de estudo com o grupo de colegas, que estão, como tu, com “a batata quente na mão” do desafio de ensinar de verdade a muitos, se possível a todos os alunos de uma turma.
Estou lendo encantada um livro de Claudine Blanchard-Laville, francesa, professora de matemática e psicanalista que tem como título “Os professores – entre o prazer e o sofrimento”. E ela nos reforça à página 121 quando, escrevendo sobre Grupo de Estudos semanais, enfatiza a necessidade de garantir a sua regularidade, em um confortável período de tempo (no mínimo duas horas, em cada semana) com a participação de todos, o tempo todo, cada um alimentando o grupo com os depoimentos pessoais de seus pensamentos e afetos. Com seus afetos, mais do que com seus sentimentos, isto é, com aquilo que nos “afeta”, quer dizer, com o que nos provoca dor ou prazer e que faz parte da tríade – amor, ódio e conhecimento.
O grupo de estudos semanal nos ajuda a descobrir-nos. Trata-se de uma especial aprendizagem, uma aprendizagem sem ensino, porque nela não há professor, apenas um coordenador, igual a nós, parceiro na responsabilidade de reger uma turma. Somos todos no grupo “mestres ignorantes”, na expressão de Jacotot. É ali que podemos experimentar as riquezas das aprendizagens que os alunos podem fazer nos seus grupos áulicos, entre pares, a qual como apontou Piaget , é mais eficaz, em certos momentos, do que as aprendizagens dirigidas pelos professores, com o peso de suas autoridades. No grupo de estudos cada um de nós é remetido à sua própria trajetória, com o objetivo de abrir-nos novas pistas de sentido para nossa ação docente.
Mas, aprendizagem é um fenômeno vivo que está ameaçado o tempo todo, devendo, portanto, ser instaurado e reinstaurado continuamente. Estar aprendendo e estar ensinando tem as exigências da própria vida, daquilo que requer energias sempre novas e surpreendentes, para o bem ou para o mal. Pois, se aprender dá prazer, também provoca sofrimento e por isso, nós oscilamos, permanentemente, entre prosseguir ou recuar. Recuamos quando, ao invés de tentar compreender porque estamos sofrendo, nos paralisamos fazendo queixas. O grupo de estudos é um lugar precioso para a transformação das queixas em pensamentos e afetos a fim de que sigamos em frente, honrando a chance que o estar vivo nos proporciona.
Aguardando o momento de nos reencontrar na Assessoria enviamos a lista de documentos que deve ser preparada e levada para ela. A partir destes documentos poderemos analisar e compreender melhor o que devemos fazer para que nossos alunos aprendam muito, o que certamente é teu desejo.

Com um abração,

Esther Pillar Grossi

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